Magnífico: A Roda que não para de girar

Por Bruno Friza

MAGNÍFICO

      Como se apenas estivesse esperando um sinal, a minha mente está a me mostrar diversos cenários possíveis para alguém com apenas 20, 30, 40 e 50 anos. Você pensou primeiro no profissional ou pessoal? Pois é.

         Não sendo o suficiente, imaginei diversos amigos, colegas e conhecidos que ainda vão enfrentar ou estão enfrentando todos os cenários.

         Cara, que tristeza. Chega a dar medo.

         Se o mundo é um moinho, talvez tivesse sido ótimo que a querida Targaryen tivesse quebrado a roda. Aquela oitava temporada foi um desastre mesmo. Mas por aqui estamos finalizando a rodada 2024 e está um show de horrores também.

         Com a roda intacta e girando, o tempo foi passando e fomos nos acostumando.

         Nossos sonhos, ainda que as vezes regados a mesquinhez e toda a parcialidade que o ser humano tem, estão cada vez mais distantes e raros.

         Quem sonha hoje em dia?

         Claro que para alguns o sonho não está distante, ele pode vir em um jatinho e em um simples tour poluir por eras o que milhares de seres humanos não conseguiriam em um século.

         Mas para os humanos de verdade — que podem estar lendo esse texto agora — está cada vez mais difícil.

         Baixamos nossas expectativas e padrão para nos adequarmos ao que querem e ao que nos resta (de saldo bancário e de energia vital). Não estou só falando de composto lácteo virar o novo iogurte e creme de leite nos mercados com a mesma embalagem. É pior que isso.

         No Reino das Rosas aprendi que a única coisa que ainda me fazia amar e viver de verdade poderia ser roubado pelo Magnífico — que por aqui somos inclinados a chamar de sistema quando o reconhecemos — era sonhar.

         Por aqui o Magnífico ainda está muito poderoso. Ele trabalha muito bem em várias camadas sociais.

         Refleti muito sobre o poder dele, a Asha foi corajosa demais.

Mas a verdade é que me soa impossível que me apareça uma Estrela e que, muito provavelmente, a Estrela se desse o ar da graça seria presa, cancelada ou vendida com muito açúcar para o hemisfério sul em uma embalagem bonita.

         O Magnífico também está presente na corrupção, no algoritmo, na rede social, no bilionário, no racismo, na guerra, nos ultraprocessados, no aquecimento global entre outros ministérios dele que aqui estão espalhados pelo mundo.

         Segundo estudos científicos realizados por Sjhawn Achor pela universidade de Harvard, o sistema está começando a atingir os humanos de verdade ainda na categoria de base, ou seja, desde a infância.

         Sonhar menos e não sonhar está inteiramente ligado aos altos níveis de depressão e ansiedade mundiais. Estamos falando de objetivos de vida e aspirações próprias estarem sumindo dos humanos de verdade.

         Pois vejam só, antes mesmo de chegarmos vivos na idade adulta o Magnífico já está lá nos desanimando.

Hospital sem médico, professor sem salário, desigualdade social aumentando, escolas sem merenda, falta de saneamento básico, imposto alto, insegurança, buraco na rua, violência, desvio de renda pública são alguns outros braços do Magnífico espalhados por aí.

         No estudo de Harvard, Achor afirma que as pessoas não precisam de sucesso para ser felizes, mas precisam ser felizes para alcançar o sucesso”.

         No filme o Magnífico e na vida real, querem mostrar a todo custo para nós que sonhar de verdade e vencer na vida é ter muito do que o sistema magnificamente pode oferecer para uma pequena parcela da sociedade: dinheiro e privilégio. Que mentira rasa.

         O medo e o fim do Magnífico ocorrem de forma relativamente rápida e conjunta na animação Disney assim que vemos o desenvolvimento de um sonho forte. Uma causa coletiva.

Queria que meu sonho fosse forte assim, mas por vezes o sistema me afeta também. Eu não sou a Asha, mas queria. Estou tentando.

Meu maior sonho é que o Magnífico da Terra acabe como Wish mostrou no Reino das Rosas.

         Um dia todos os humanos de verdade voltarão a sonhar e se eu não participar de forma física, virei como a Estrela. Vou acompanhar a conclusão da saga por aqui de alguma forma. Mereço isso. Merecemos mais e vamos conseguir. Que sejamos mais Asha.

O Folha Cabista tem o prazer de apresentar Bruno Friza, um escritor talentoso que estreia como colunista trazendo reflexões que nos fazem pensar além do óbvio.

Estudante de Geografia e Letras, Bruno combina uma visão crítica com uma sensibilidade única, capturando as nuances do cotidiano e das relações humanas. Apaixonado por viagens e pelo contato com diferentes culturas, ele acredita que cada pessoa carrega uma história única que merece ser compartilhada.

Em seu primeiro texto para o Folha Cabista, intitulado “Magnífico”, Bruno nos convida a uma profunda reflexão sobre o impacto do “sistema” na vida moderna e na capacidade de sonhar. Com uma escrita provocativa e repleta de referências culturais, ele traça um paralelo entre a realidade e a ficção, abordando temas como desigualdade social, saúde mental e a luta por aspirações em um mundo adverso.

O texto destaca como o “Magnífico” — uma metáfora para as forças opressoras da sociedade contemporânea — afeta o modo como vivemos e sonhamos. Com uma narrativa envolvente, Bruno questiona o que nos faz humanos de verdade e aponta para a esperança de que, juntos, podemos superar as barreiras impostas pelo sistema.

Esta coluna é uma leitura imperdível para aqueles que buscam um olhar profundo e crítico sobre os desafios do mundo atual, com a sensibilidade de quem acredita no poder das histórias para transformar realidades.

Redação: Brendow Lincoln

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